Sempre morei em São Paulo e minha familia mora no interior - Franca, divisa de SP com MG - e tem também alguns parentes em São José da Bela Vista, uma cidade que é um ovinho, pouquissimos habitantes, cidade vizinha de Franca, apenas 20 minutos. Me lembro de quando era criança, contava os dias para chegarem as férias e assim poder ir viajar, dava um frio na barriga quando faltava apenas uma semana para irmos, a ansiedade era enorme, arrumava a mala com esperança do tempo passar mais rápido. Então chegava o dia mais perfeito, era uma pressa, queria que todos entrassem rápido no carro para podermos chegar o mais rápido possível lá. Minha animação no carro não me permitia esconder a alegria que estava sentindo e a cada quilometro andado era uma chance para eu ficar ainda mais agitada.
Quando passavamos em Ribeirão Preto meu coração acelerava, pois estavamos chegando, apenas mais uma hora e minha alegria seria completa.
Íamos direto para São José na casa dos meu avós por parte de pai, lembro exatamente o que sentia ao entrar na cidade, era um alivio, um sentimento de aconchego, então chegavamos rapidamente na casa da minha avó no fim da cidade, chegando lá meu avô logo pedia para minha vó fazer um café para minha mãe e ele já saia e ia no mercadinho comprar coca-cola e sequilhos (biscoito amanteigado), chegava, colocava em uma tigelinha um monte de biscoito pra mim e para minha irmã e colocava um copão de coca pra cada uma, eu nunca gostei daqueles biscoitos, mas ele ia comprar com tanto gosto, tanta alegria, tanta vontade de me satisfazer que eu sempre comia tudo. Então colocavamos a conversa em dia, durmiamos lá e no outro dia íamos visitar nossos parentes em Franca, brincava sem parar, sempre tinha churrasco, meus primos e eu brincavamos, era perfeito.
Chegava o dia de ir embora, eu nunca chorei porque sempre fui muito durona na frente dos meus pais, mas o aperto no peito era muito grande, a vontade de chorar quase incontrolável. Voltavamos e tudo começava novamente, escola, meus pais trabalhando, e a ansiedade das outras férias chegarem me matava durante 6 longos meses.
Mas meu post não vai ser dedicado hoje a isso, e sim ao meu avô, meu querido vô.
Lembro-me de um dia, não sei por qual motivo, toda a minha familia estava acordada bem cedinho, 6 da manhã (não era rotina, sempre acordavamos umas 9), então logo que acordamos o telefone toca e sinto um aperto no peito, meu pai desliga o telefone falando que o seu pai havia morrido, me lembro exatamente o que sinti, uma solidão, um vazio, um certo "medo". Meu pai não chorou apenas ficou em silêncio, minha mãe foi arrumar as malas, minha irmã começou a chorar, e eu, muito durona (aparentemente) fui para fora do prédio, o dia estava nublado, escuro, frio e quente ao mesmo tempo, então chorei pensando no meu avô, chorei até se esgotarem todas as minhas lágrimas. Voltei para dentro, todas as malas estavam prontas, não era nem 8 horas e estavamos na estrada, foi a viagem mais longa, mais quieta, nem mesmo uma palavra foi dita em todo o percurso. Chegamos e fomos direto para o velório daquela pequena cidade, eu com apenas sete anos ia ao enterro do meu avô.
Chegando lá, logo avistei todos os meus tios lá dentro, no fundo da sala, junto ao caixão, a cidade toda do lado de fora, entramos e o silêncio permanecia, o único som que se ouvia era o choro de meus parentes, não tive coragem de chegar muito perto, olhava de longe, tentando ver se realmente era meu vô lá dentro, querendo encontrar motivos para crer que aquilo realmente estava acontecendo.
Depois de muitas horas o caixão foi levado para o cemiterio, a cidade toda abaixou as portas em respeito, minha irmã passou mal e foi levada pela minha tia para o carro, e eu, vendo o caixão sendo fechado e sendo colocado dentro da cova, não aguentei, saí de lá não querendo ter aquela cena em minha mente para sempre, mas já era tarde demais.
Meu avô, um pai maravilhoso, um marido dedicado, um avô carinhoso. Todas as dificuldades financeiras não tiraram a alegria de seu rosto, sempre pensava em seus filhos primeiramente, deixava eles comerem antes e se sobrasse comida ele comia, senão ia durmir com fome e trabalhar no outro dia. Até hoje escuto histórias do quão bom ele foi. Meu avô morreu com o sonho de ter um neto, pois por algum motivo meus tios e tias não podiam ter filhos, apenas filhas.
Minha tia estava grávida de sete meses quando ele faleceu, e ele morreu sem saber que minha tia teria um menino, o neto que ele tanto sonhou.
Infelizmente, após duas semanas de vida ele veio a falecer, meu primeiro primo, o sonho do meu avô, mas conheci ele e levo comigo seu rostinho delicado eternamente. Porém dessa vez não fui capaz de ir ao enterro, fazia apenas dois meses que meu avô tinha nos deixado e não seria capaz de guardar mais uma cena dessas em minha mente. Meus pais foram e dizeram que foi triste, um bebê, um lindo bebê nos deixando.
Vô, esteja onde estiver, estará sempre comigo, jamais me esquecerei do seu carinho, da sua presença. Sinto sua falta. Te amo!
Gabriel, primo amado, apesar de viver apenas duas semanas, sempre levarei você junto a mim, pois era meu primo amado, e que você tenha encontrado nosso avô e que ele tenha ficado muito feliz em saber que teve sim um neto.
p.s: me desculpem a ausência, não é falta de vontade, é que a net pifou aqui, não parava de pensar em vocês, mas voltei ^^
Fechando com chave de ouro, aí vai uma foto do meu avô querido!